Mas é a paixão realmente essencial para o sucesso do empreendedor? Uma questão mais importante pode ser: o que é realmente essa paixão empreendedora e como podemos medi-la? Qual é a relação entre a paixão e outras características pessoais dos aspirantes e dos já empresários, como a sua honestidade, capacidades de comunicação, inteligência emocional, determinação e esforço?

Gosto de ver o programa “Shark Tank” da CNBC por diversos motivos (especialmente pelas avaliações loucas que os jovens empresários dão às suas ideias) e, entre os vários “tubarões”, costumo apreciar a visão de Mark Cuban e a capacidade de rapidamente identificar os elementos-chave de cada empresa. Cuban é famoso por realçar no programa (e em qualquer outro lado) que “Não siga a sua paixão. Siga os seus esforços.” Acho que é um bom conselho. Dito de uma maneira simples, a paixão não paga as contas.

De acordo com a minha experiência, a paixão não é um fator determinante no sucesso do empreendedor, nem acho que seja essencial para o sucesso do negócio no longo prazo. Na verdade, esta pode cegar o empresário em relação às coisas que realmente precisa de fazer para ter sucesso. O oposto da paixão não é o desinteresse; é sim a capacidade de ser um dos maiores críticos – ser certeiro a avaliar, criticar e modificar – tanto das pessoas, como dos processos e dos produtos da sua empresa, em particular. Os empresários apaixonados podem estar tão errados (ou tão certos num determinado assunto) como aqueles que não expressam essa mesma emoção ou tendência.

Longe do que tinha planeado para a minha carreira, fiz um desvio de 22 anos pela produção agrícola e fui cofundador do que se tornou numa empresa muito grande, com supermercados clientes ao longo dos EUA, Canadá, México, entre outros. Os nossos produtos principais eram pêssegos frescos, ameixas e nectarinas, e hoje a empresa (dez anos depois de ter vendido a minha participação) é muito bem-sucedida e uma das maiores da América do Norte.

Aqui está algo que os meus alunos de empreendedorismo, familiares e amigos sabem sobre mim – de facto, não gosto de pêssegos, ameixas e nectarinas. Sou muito mais apreciador de banana, uva e maçã, e os produtos que fiz crescer, embalei, vendi e distribuí para milhares de clientes satisfeitos eram algo que realmente não consumia e continuo a não consumir.

O que me atraiu e com que realmente me comprometi foi descobrir os componentes individuais, os sistemas e os processos e técnicas de gestão que podiam ser aplicados num determinado ambiente competitivo, de forma a alcançar a liderança do mercado, o poder da marca e o lucro. Era como um enorme tabuleiro de xadrez multidimensional em constante evolução e rotação, no qual o hoje nunca era igual ao que tinha sido ontem e muito menos o que o futuro traria. Foram os processos e as pessoas que captaram o meu interesse, não o produto em si mesmo.

Três anos depois de termos criado a empresa, exatamente quando estávamos a conseguir ter um grande sucesso e nos estávamos a preparar para ter ainda mais, o meu sócio, a esposa e os seus dois filhos morreram num trágico acidente de automóvel, o que me levou a ter de trazer novos sócios para empresa que assumissem o seu investimento financeiro, conhecimento e energia. Posso afirmar que não foi a paixão que me fez conseguir atravessar esta crise e que salvou a empresa; foi o compromisso para com os meus colaboradores, agricultores, clientes e para com a minha família e a recordação do meu sócio perdido; foi o valor do nosso modelo e plano de negócios; foi o sacrifício pessoal e a construção de uma equipa que poderia resistir a tal crise; e foi uma enorme quantidade de trabalho árduo. Tenho aprendido esta lição vezes sem conta ao longo da minha carreira e em situações e cenários muito menos difíceis do que o da súbita perda de um sócio.

Dê ouvidos ao Cuban. A paixão perde importância perante o esforço. Siga o seu esforço.

Randy Ataíde